sábado, 26 de março de 2022

Porque escolhi a Psiquiatria?

 


    Quem me conhece sabe que sempre que pensei em fazer medicina a primeira escolha de especialidade era a ortopedia. Aos 17 anos fui estudar fisioterapia no Centro Universitário Adventista de São Paulo - UNASP. Durante o ensino médio no IAENE (atual Faculdade Adventista de Bahia) eu tinha uma vida intensa de atividades musicais: tocava piano, saxofone, participava de banda sinfônica e cantava em corais e grupos na igreja. Apesar de não saber nada sobre o que era a fisioterapia, acabei sendo afetado pelo efeito de manada, já que vários amigos estavam indo estudar em São Paulo. O UNASP é conhecido por ser uma potência musical e referência para toda a Igreja Adventista do Brasil e no mundo, e o curso de fisioterapia era um dos curso da área de saúde oferecidos que mais me chamou a atenção, apesar do real motivo de ter decido ir estudar lá: a música. "Mas porque você não fez faculdade de música?", muitos me perguntaram. Até pensei seriamente nessa ideia naquele período, mas escolhi ter a música como um hobbie e investir em uma carreira como profissional da saúde. No 4º e penúltimo ano do curso de fisioterapia, iniciei paralelamente o curso de bacharelado em Educação Física. Estava muito interessado na área de reabilitação ortopédica e esportiva e me pareceu uma ótima ideia me aprofundar na ciência do esporte, já que muitas das matérias eram as mesmas oferecidas nos 2 cursos e ministradas pelos mesmos professores. Pude eliminar de cara aproximadamente 24 disciplinas na Educação Física, o que me permitiu concluir os 4 anos do bacharelado em apenas 2 anos e meio. Me especializei em Osteopatia e em Reeducação Postural Global (RPG) e ao final dos meus 7 anos como aluno do UNASP, retornei a Belém no final do ano de 2008. 

    Em 2009 e 2010 atuei como fisioterapeuta e educador físico, trabalhando em academias, clinicas e no Hospital Adventista de Belém (HAB), mas ainda não estava satisfeito profissionalmente. Em 2011 tive a oportunidade de ir estudar medicina na Universidade Adventista del Plata (UAP) na Argentina, onde morei e trabalhei por 8 anos. Já escrevi um artigo aqui no blog de como foi a experiência de estudar fora do Brasil: 5 motivos para estudar medicina na UAP

    Ao longo do curso de medicina, sempre fui atraído pela áreas da cirurgia e emergência. Achava fascinante os atendimentos aos pacientes graves, procedimentos invasivos e toda a parafernália que envolve esse tipo de ambiente. Sempre ouvia que a ortopedia seria a escolha natural: devido a formação e conhecimentos prévios em fisioterapia e educação física, como ortopedista eu seria um profissional "completo".    

    E assim foi durante toda a faculdade e até pouco tempo atrás. Muita gente ficou 😱😱😱 quando disse que ia na direção da psiquiatria 😅. "Como assimmmmm????"

    Pois é...

   Há pouco mais de 1 ano atrás, no auge da segunda onda da COVID-19, vivenciei uma "pandemia" de pacientes durante minha atuação na atenção básica com queixas aparentemente orgânicas: dor torácica, dores de cabeça, dor abdominal, dor lombar, episódio de diarreia persistente, insônia, falta de ar, falta de apetite e etc. Em 5 min de conversa os pacientes contavam que se sentiam angustiados, tristes, ansiosos, com medo e muitos entre lágrimas e soluços contavam que haviam perdido um pai, a mãe, um filho, familiares e amigos pra COVID. Outros eram sobreviventes de internações prolongadas e complicadas ou apenas com muito medo de contrair a doença e morrer. A consulta que deveria ser objetiva pela grande demanda de pessoas no posto de saúde, passava a ser uma sessão de "terapia" de 30, 40 mim. Notei que em vários casos consegui conduzir a situação sem pedir nenhum exame ou prescrever qualquer medicação. Só a "papoterapia" foi eficaz para controlar os sintomas físicos e acalmar a dor emocional. Daí em diante passei a ter uma verdadeira relação de amor com a saúde mental, e a aparente certeza de querer ser um cirurgião se tornou pelo objetivo de ser psiquiatra. Doidera, verdade?? 🤪

    Minha primeira escolha era entrar na residência aqui mesmo em Belém e ficar no meu canto já estabelecido e próximo da minha família. E Deus foi bom e me deu esse presente!! Fui agraciado com novos amigos e parceiros R1s, e muito bem recebido pelos demais residentes, preceptores e equipe de enfermagem no hospital.

    A realidade das doenças mentais graves é complexa, trabalhosa e muitas vezes triste, mas vejo como uma oportunidade de aprendizado e uma forma de ajudar a aliviar a dor desses indivíduos muitas vezes esquecidos, abandonados e marginalizados pela família e sociedade. Essas primeiras semanas na residência me deram a certeza que acertei em escolher a psiquiatria!!

    Me despeço com esse vídeo da minha nova casa pelos próximos 3 anos: Fundação Hospital de Clínicas Gaspar Vianna.




Nos vemos,

Diego Moraes

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